Existia um reino, perdido nos
confins do mundo, governado por um opulento e asqueroso javali. Ele era temido
por sua crueldade e forma passional como comandava seu reino. Durante muito
tempo as manifestações de descontentamento haviam sido esmagadas uma a uma, mas
com o passar dos anos, os súditos começavam a se organizar e articular
rebeliões na tentativa de depor o déspota.
Vendo que a
situação estava ficando complicada para si, o monarca chamou seu conselheiro,
que hoje em dia poderia ser chamado de personal
stylist ou consultor de imagem pessoal. Ao explicar sua inquietação para
seu confidente, o regente expressou toda sua indignação com o sentimento
popular, pois, segundo o rei javali, o povo era bem tratado, recebia proteção
contra invasões, fazia festas e cultos religiosos. Além disso, muito pouco era
pedido em troca, como uma parte das suas colheitas e demais artefatos
produzidos pelos artesãos como forma de tributos.
Ao ouvir atentamente o discurso
indignado do monarca, o ilustre consultor tirou da sua cartola de soluções a
ideia de criar um plano de melhoria da imagem do soberano, no qual seriam
trabalhados aspectos fundamentais para mudar o humor da plebe, como uma
repaginada na aparência do rei, campanhas de relações públicas, como o uso de
trovadores, que iriam cantar e contar por todo o reino as bravuras e não as
bravatas do imperador.
Uma das ações centrais do plano
seria um trabalho de personal dressing
para o comandante daquela nação e para tal, foi contratado o melhor alfaiate
que existia naquela parte do mundo. Ele já havia servido a vários outros
monarcas. O artesão da alta costura mostrou os mais finos tecidos e acessórios
que exaltariam a nobreza do governante e transmitiriam aos súditos uma imagem clean, repleta de magnitude do seu líder
supremo. Músicas e histórias também foram escritas, grupos mambembes foram
treinados para dramatizar os feitos do soberano. Uma boa parte do tesouro real
foi investida na empreitada.
Após três meses de uma intensiva campanha
de melhoria da imagem real foi possível notar que as críticas e rebeliões
aumentaram e as apresentações dos trovadores e atores eram satirizadas aos
quatro cantos do reino. A nova imagem do rei, marcada pelos novos e suntuosos trajes
também era ridicularizada pelo gosto duvidoso das peças e pelos gastos vultosos
que poderiam ter sido revertidos em redução dos tributos, segundo a opinião
pública daquela comunidade.
A ira real intensificou-se após
aquela derrocada. Como seria possível tolerar tamanha ingratidão? Apesar dos
esforços reais, a população continuava a criticar e reivindicar melhorias nas
suas vidas! Cansado dos esforços em vão, o monarca comandou ações duras de
repressão. Pessoas foram presas, outras expulsas do reino e os tributos tiveram
que ser majorados para cobrir o rombo nas finanças reais.
Como ação máxima, o conselheiro
real convenceu o monarca a condenar o alfaiate à morte por decapitação, pois o
seu mau gosto havia ridicularizado o soberano e colocado tudo a perder.
Ao ser conduzido ao seu triste
destino, o desafortunado profissional indagou ao conselheiro:
- Por que fui o único culpado pelo
fracasso da nobre tarefa de melhorar a imagem real, senhor conselheiro?
De forma solene e passando uma
superior impressão de sapiência, nosso personal
stylist explicou de forma branda e serena:
- Porque, meu distinto alfaiate,
para você ficou a tarefa de mostrar uma imagem nobre e de estadista do nosso
líder maior. Eu sabia que o resultado seria pífio, pois os motivos reais da
insatisfação do povo não foram tocados. Se eu tivesse proposto mudanças “reais”
e estruturais, teria que deixar explícita a miopia do nosso monarca e que ele
não consegue enxergar o que realmente seus súditos conclamam.
- E o que eles conclamam? Indagou o
pobre condenado.
- Nosso povo quer participar das
decisões, justiça e coerência no uso das verbas reais, além de crescimento
pessoal e espiritual.
- Mas isso não pode ser mudado com
uma campanha de imagem! Indignou-se o alfaiate.
- Sim, meu caro, mas quando ele
perceber isso, também não terá mais a cabeça sobre seus ombros...
Imagem é tudo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário