domingo, 4 de fevereiro de 2018

A origem extraterrestre do Carnaval



Numa manhã, que parecia ser apenas mais outra no planeta Terra, ocorreu um fato que iria mexer com seus habitantes para sempre.

Uma grande nave foi avistada entre as cidades de João Pessoa e Campina Grande, no território da Paraíba. Todos viram estarrecidos aquele objeto oval do tamanho de 10 campos de futebol ficar estático no ar a cerca de 100 metros do solo. Então, de um túnel de luz, desceram seus ocupantes.

Dois seres de cerca de 2 metros de altura apareceram no solo paraibano de forma impávida. Você pensava que naves extraterrestres apenas pousavam em Nova York? Engano seu, caro leitor.

As autoridades perplexas tomaram coragem e se aproximaram dos visitantes. Não sabiam como se comunicar, mas de forma surpreendente, notaram que os seres intergaláticos, conversavam com eles por telepatia.

"Habitantes do planeta Terra, viemos aqui para dizer que a Federação Intergalática não pode mais ficar inerte aos descaminhos realizados por vocês. Guerras, fome, destruição do meio ambiente, tudo isso foi considerado uma sentença de morte..."

As autoridades e líderes religiosos não podiam acreditar naquelas palavras. Seria este o Armagedom? O Apocalipse finalmente havia chegado?

Foi uma comoção forte e repentina. As beatas rezavam, os babalorixás despachavam, os políticos mancomunavam e a população começava a imaginar como seria o fim da humanidade.

O governador perguntou aos seres interdimensionais: "nosso fim será com seca?"  O vigário arguiu: "haverá terremotos e o fogo brotará das entranhas da Terra?" O pastor profetizou: "os mortos renascerão para o juízo final?"

Os visitantes se entreolharam surpreendidos com o tom exagerado daquela população do agreste, cientes que apenas um pequeno mosquito poderia resolver a situação de forma menos escandalosa...

Então disseram: "Nossa Federação é considerada um entidade piedosa. Um pouco de penitência pode comover nossa egrégora."

Ao ouvir aquilo, os representantes da sociedade paraibana indagaram... "Então vocês querem penitência? Seria uma novena?" Perguntou o bispo. "Devemos construir um altar para a Federação?" Questionou o ancião. "Deveríamos votar no Bolsonaro", indagou o paramilitar?

Os extraterrestres sorriram e responderam: "Não... não sejam tão dramáticos..." Façam o seguinte:

Todos os anos, durante 10 dias, vocês se reunirão nas vias públicas. Nesses dias, as pessoas não poderão utilizar transporte público nem privado, pois as vias estarão interditadas. Em cada metro quadrado cerca de 10 pessoas disputarão espaço, mas não poderão ficar paradas. Fará parte do sacrifício, que todos pulem e sacolejem seu esqueleto durante pelo menos seis horas. Em volta da turba, centenas de missionários com jaleco amarelo ficarão a postos para abastecer as pessoas com um líquido fermentado de sabor amargo, armazenado cuidadosamente em recipientes feitos de espuma de poliestireno, para que as pessoas lembrem do fel das suas atitudes despropositadas. As necessidades fisiológicas deverão ser reprimidas e aqueles que não aguentarem equilibrar a ingestão do líquido fermentado com a extrema agitação, deverão aliviar-se nas próprias vias públicas, para que lembrem dos seus pecados e de quanto sangue já foi derramado em seus conflitos. Mas a penitência não será silenciosa... Sacerdotes percorreram a procissão em altares móveis, ecoando seus mantras melancólicos, que cantarão as mazelas humanas, os relacionamentos desfeitos, as traições conjugais e uma melodia uniforme, que servirá a todos os coros, completará o sortilégio. Mas não pensem que apenas estar presente no ritual será suficiente... Todos deverão utilizar túnicas apropriadas ao ritual. Muitas delas apresentarão a mesma logomarca dos mercadores do líquido fermentado e ninguém receberá valor algum por isso. Máscaras e perucas de ráfia também serão obrigatórias, para que todos lembrem de suas máscaras cotidianas. Não bastará estarem juntos e compactados... Carícias também ocorrerão, algumas delas, um pouco além do recomendado. Ninguém poderá manifestar seu descontentamento como tal situação. Pelo contrário, uma alegria além do normal deverá estar presente no semblante de todos, pois lembrarão que este ritual fez com que a extinção da raça humana fosse evitada e uma nova oportunidade surgiu para todos os homens de boa vontade.

Os habitantes locais ouviram atônicos aquilo que teriam que passar durante todos os anos, a fim de que, os governantes estelares, também chamados Deuses, pelos greco-romanos, pudessem ter sua ira aplacada. E de forma resignada, ecoaram a missão por todos os cantos. Cariocas, baianos, paulistas e pernambucanos trataram de preparar sua oferenda cósmica e, desde então, todos os anos, os habitantes da Terra de Santa Cruz seguem sua senda.

Os moradores de outras paradas também tiveram sua própria penitência, mas nada tão contundente como aquela destinada ao povo tropical.

Então, aqueles que estiverem descontentes, não reclamem! Dez dias é muito pouco, comparado ao destino que a nós estava reservado! Agora preciso sair correndo, porque a procissão já está chegando na rua da Consolação...