quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Margarete e a Terra Média



Margarete mora bem longe do trabalho. Sua casa é tão longe que fica perto da Terra Média. Lá mesmo, onde moram os orcs, elfos, anões e hobbits... Mas ela não desiste, quase não falta e somente chega atrasada quando tem greve de ônibus, caminhão tombado na Marginal ou manifestação de algum grupo descontente.

Margarete é assistente administrativa na sua empresa. Às cinco e meia da manhã ela já está dentro da primeira condução que vai leva-la ao centro da cidade. Ela gosta de ir trabalhar ouvindo música no seu smartphone, aliás, melhor do que o meu. Acho que isso pode ser explicado pelo fato do celular com internet ter dado algum alívio para as 5 horas que ela irá passar em trens, metrôs e ônibus.

E ela não usa o celular apenas para ouvir música... Enquanto vai mudando de uma condução para outra ela dispara mensagens do “zap” para sua rede de relacionamento. Vão fotos da última balada com as amigas, vêm fotos do irmão de Clara, sua melhor amiga, que vive tentando empurrar o menino para Meg, como ela é carinhosamente chamada pelos amigos.

Meg gostaria de estudar, mas até hoje não conseguiu escolher um curso que gostasse e que pudesse pagar. Ah... Agora tem aqueles cursos a distância com mensalidades bem baratinhas, uns 150 reais por mês e se você tiver força de vontade, conseguirá assimilar alguns conceitos importantes, “tipo assim”, quais são os 4 Ps do marketing e os subsistemas de RH, caso você escolha um daqueles cursos tecnólogos.

Mas Meg até hoje não conseguiu descobrir o que os 4 Ps ou os subsistemas de RH irão fazer para melhorar a sua vida. Então, o sonhado curso universitário fica mais pra frente...

Quando Margarete finalmente chega ao escritório, está na hora do café da manhã. Pãozinho pra cá, bolinho pra lá e as pessoas começam a se confraternizar todas as manhãs. O assunto é novela, futebol, BBB, e o papo é colocado em dia.

Então, finalmente ela começa a trabalhar. Ela tem muita planilha pra preencher para depois rodar uma macro que vai sair calculando tudo automaticamente, “Santo Bill Gates”. Mas o “zap” continua gritando por usa atenção. Muita foto indo e vindo, além dos últimos “babados” que precisam ser atualizados. O Face também não é poupado. Toda hora chega um vídeo muuuuuito engraçado...

Meg até hoje não conseguiu para de fumar. Eita vício difícil de perder, né? Então ela para duas vezes para fumar antes do almoço. E como não é permitido fumar em ambiente fechado, ela precisa sair do prédio e aí, desce elevador, sobe elevador e mais algumas oportunidades para algumas mensagens no “zap” e encontrar outros fumantes para continuar o papo que começou no café...

Então é hora do almoço e o processo continua...

A tarde passa rápido. As últimas planilhas são preenchidas, mais algumas saídas para fumar, um lanchinho da tarde e já está quase na hora de ir embora. Certamente as coisas correm mais rapidamente quando a gente se conecta  a diversas mídias, não é? Meg adora trabalhar ouvindo música e jura de pé junto que ela não erra nenhum número nas suas planilhas.

Está na hora de ir embora. Mais algumas horas na condução, muitas mensagens trocadas pelo “zap”, fotos no Face, Instagram, músicas e assim Meg vai pra casa. E ainda vai ter outra jornada esperando por ela. Roupa pra lavar, passar, “janta” pra preparar e lição de casa para fazer junto com seu filho Gabriel de oito anos.

A rotina de Margarete parece ser a mesma de muitas outras pessoas que atuam no mundo do trabalho. Num país onde a meta é aumentar os empregos de carteira assinada, será possível pensarmos em formatos mais flexíveis e inteligentes para a atividade humana?


Ou então... Vem Margarete, vai Margarete, passa mensagem, recebe mensagem, calcula planilha, envia foto, kkkkk, ouve música, recalcula a planilha, toma café, vai mensagem, zzzzzzz, vem mensagem, rsrsrs, almoço, salva a planilha, kkkkk....

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Um sonho para abrir 2016



Mônica, uma economista brilhante que trabalha comigo, estava me esperando na porta da minha sala quando cheguei para trabalhar hoje. Após alguns dias na Bahia, hoje eu retomaria minhas atividades normais, revitalizado pelo Sol baiano e cheio de esperança em 2016. Ao ver minha querida colega de trabalho aguardando-me com um lindo sorriso e certo ar de expectativa no ar, fiquei curioso. O que será que ela tinha de tão importante para me dizer?

Fábio, Fábio, tudo bem? Preciso te contar algo...

Tive um sonho na noite passada sobre os problemas do Brasil.” Tá mais pra pesadelo, concordam? “Acho que descobri uma forma de gerar empregos sem depender de políticas públicas.” Agora sim, minha curiosidade aumentou...

Após perceber meu interesse explícito, Mônica continuou com seu tom professoral...

John Maynard Keynes foi um dos maiores economistas do século XX. Ele dizia que em épocas de crise é preciso aumentar a demanda agregada, mesmo que sejam contratados homens para fazerem buracos nas ruas e outros para taparem os buracos feitos.

Realmente, minha amiga economista tinha razão, segundo Keynes, que teve seus conceitos utilizados pelos países nas épocas de crise, o que importa é contratar pessoas, pagar salários, dinamizar o consumo, pois o efeito multiplicador irá levar o país ao crescimento novamente.

Claro que esta é uma solução paliativa. O que realmente resolve a situação econômica de um país são os investimentos em infraestrutura, equilíbrio fiscal do Governo, desburocratização e inovação. Mas isso leva décadas, principalmente no Brasil, onde tudo é emperrado.

Então perguntei a Mônica, como os conceitos macroeconômicos de Keynes poderiam resolver os problemas do Brasil.

Ela continuou, ansiosa para expor seu plano econômico (rsrs)...

Fábio, veja só, a solução deve vir da iniciativa privada, que é mais bem organizada e possui uma estrutura mais dinâmica. A proposta é que parte do orçamento das empresas em comunicação corporativa, propaganda, imagem institucional, doações a partidos, entre outros, seja destinado para um projeto emergencial de geração de empregos”.

Fiquei intrigado... Como ela faria isso?

Fábio, presta atenção...”, ela adorava esta expressão, “Neste projeto, as empresas contratariam junto à população desempregada, professores, assistentes sociais, artistas, administradores e demais profissionais para atuarem na sociedade como instrutores e facilitadores. Estes profissionais iriam trabalhar nas comunidades carentes, levando educação, artes, orientações sobre saúde e cidadania e poderiam também fazer o papel de ouvidores das empresas contratantes, conversando com seus clientes e buscando melhorias nos serviços prestados.

Comecei a achar interessante e inovador...

Continuou Mônica... “A novidade do projeto é que a contratação não seria via CLT. Os profissionais seriam cadastrados como MEI, microempreendedores individuais, e receberiam capacitação gratuita do Sebrae, que também seria um parceiro do projeto.”

Interessante... Uma parceria público-privada...

Ela retomou... “Não haveria vínculo empregatício e isso permitiria custos menores para as empresas e a possibilidade de mais gente trabalhando, mesmo sem estarem empregadas.

Realmente, esta era uma medida tipicamente keynesiana, aumentar o emprego e assim, também o consumo e a renda. A saída viria via aumento na demanda agregada.

E Mônica não parou por ai... “Além disso, o projeto seria um incentivo ao empreendedorismo, que é uma solução para a profissionalização da nossa mão de obra e para o Brasil se modernizar, tendo profissionais mais aptos aos desafios dos nossos tempos.”

Então não me contive... Perguntei a ela se os profissionais de propaganda e marketing ficariam sem trabalho.

Ela parecia já esperar pela pergunta... “Não”, disse Mônica, “Eles poderiam coordenar o projeto, sua divulgação e comunicação.

Mas a dúvida que me martelava a cabeça é se as empresas topariam trocar ações institucionais por um projeto tão audacioso. Seria possível trazer os mesmos ganhos que o modelo tradicional proporcionaria?

Então, Mônica fez seu fechamento... “As empresas que aderissem ao projeto trabalhariam de forma cooperada e a opinião pública saberia que um grupo de empresas estaria assumindo para si o papel de alavancar empregos em tempos de crise. Haveria melhor contribuição para a imagem dessas empresas?

Realmente, minha querida economista tinha pensado num plano bastante heterodoxo, mas que podia dar certo. A grande mensagem que seria passada é que existem soluções possíveis mesmo quando o cenário é negro pela frente.

Disse à Mônica que a ideia era arrojada e perguntei-lhe como pretendia divulgar seu plano inusitado. 

Ela me encarou com olhar sério e depois, com um lindo sorriso, falou...

Não sei ainda. Você é a primeira pessoa com quem falo, mas você tem um blog, não tem?

Então, a ideia da Mônica veio parar aqui. Será algo possível ou mais um delírio de uma economista de plantão? 

Se você gostou da ideia da Mônica, compartilhe!