domingo, 17 de setembro de 2017

Não há torá sem farinha



Existe um velho ditado hebraico que diz: "Se não há farinha, não há Torá; se não há Torá, não há farinha".

Farinha representa o sustento, os bens materiais e o esforço para se obter o pão nosso de cada dia. Torá são as leis, o conhecimento, o caminho para o entendimento das coisas e a consciência superior.

A farinha pode ser entendida também como a práxis, as nossas ações, as atitudes concretas que deixamos pelo mundo. Torá é a sabedoria expressa por nossas palavras e pela imagem que construímos e defendemos.

Uma pessoa que possui mais sabedoria em seu discurso do que aquela expressa em suas ações, ou seja, mais torá do que farinha, é como uma árvore com galhos numerosos, mas com raízes frágeis onde qualquer vento poderá arrancá-la.

Já uma pessoa que possui ações superiores à sua sabedoria, pode ser comparada a uma árvore com poucos galhos, não tão vistosa, mas que possui inúmeras raízes fortificadas e nenhuma tempestade poderá tirá-la do solo.

Estamos vivendo tempos onde o conhecimento e a sabedoria, mesmo que aparentes, têm sido muito valorizados. Imagens são formadas, mitos são arquitetados, mas as atitudes acabam por não refletir este brilho exterior.

Esperteza e malandragem, travestidas de sabedoria, é como se fossem o deus Hermes, patrono do ilusório e das artimanhas, com as roupas do deus-sol, Apolo, tentando iluminar as multidões.

E do outro lado, milhões de pessoas que conhecem bem o esforço necessário para transformar a farinha em pão, por mais que não reverberem uma imagem reluzente e ilusória, são arvores que apesar de todas as tempestades que enfrentam, continuam firmemente sustentadas por suas ações.

Não há Torá sem farinha. Não há sabedoria sem ética. Não há sucesso sem honestidade e trabalho. Em momentos onde tudo parece ter perdido seus princípios, é possível encontrar conforto e discernimento numa singela metáfora como essa.




domingo, 10 de setembro de 2017

O miserável mundo dos 10%



A Cabala apresenta a realidade na forma da Árvore da Vida, onde existem dez dimensões ou esferas, denominadas sefirot, que devem ser vivenciadas para que sejamos seres plenos, cheios de alegria e realização.

Existe uma cortina que separa cada uma das dimensões, que deve ser vencida para o acesso às outras.

O mundo físico dos sentidos é apenas a primeira dimensão e é chamado de "escolha". Por não conseguirmos ver além da sua cortina, entendemos que a realidade está englobada apenas nela. Ao contrário, viver estacionado nesta esfera, significa ficar afastado da totalidade. Mas tudo não passa de uma escolha.

Ao encontrarmos um obstáculo, fica difícil superá-lo, enxergando apenas 10% da realidade. Ao surgir um problema profissional, podemos crer que somos fadados ao fracasso; o término de um relacionamento pode nos levar a conclusão que não somos feitos para o amor; e ao deixarmos passar nossas vidas de forma automática, podemos concluir que nossa existência não possui propósito.

Viver no mundo dos 10% é ter uma vida miserável. É difícil não se sentir pobre com apenas 10% da visão. O sentimento é que as coisas são rasas, sem significado. Por mais ricas e poderosas que as pessoas e organizações aparentem ser, se vivem apenas no mundo dos 10%, elas são verdadeiramente miseráveis.

Vencida a primeira cortina, chegamos a segunda dimensão e caminhamos mais um pouco rumo ao mundo dos 100%.  Esta é a dimensão do "propósito". Ter um propósito consciente significa fazer escolhas com fundamento. Dessa forma, a segunda dimensão traz sentido para a primeira. Pessoas e organizações ricas e poderosas que não possuem propósito, levam uma vida árida e vazia. Para vencer a segunda dimensão é preciso ter o verdadeiro desejo de compartilhar. Não existe propósito que não seja compartilhado.

A terceira dimensão representa o "refinamento". Um dos motivos de estar vivo é a busca de fazer as coisas cada vez melhor, com refinamento. Esta dimensão também nos ensina a importância da perda para continuarmos nossa caminhada. Somente é possível obtermos refinamento naquilo que fazemos se soubermos eliminar os excessos e as escolhas inúteis. Parece simples, mas não é. Quantas coisas e relacionamentos teimamos em manter, sem ter nenhum resultado concreto? Acumular em excesso também pode nos tornar miseráveis.

A quarta dimensão é a "permanência". Não é possível fazer escolhas com propósito e refinamento se não somos persistentes no nosso caminho. Quantas pessoas conhecemos que estão sempre mudando de objetivo sem conseguir resultados efetivos. Na árvore da vida, a esfera da permanência está ao lado da esfera do refinamento, mostrando que a busca por melhorar nossas escolhas e relacionamentos deve ser um processo contínuo.

No caminho ao mundo dos 100%, a quinta dimensão traz a importância do "equilíbrio" da nossa jornada e projetos pessoas e organizacionais. Este equilíbrio é atingido pelo constante processo de reflexão e avaliação das nossas escolhas, que são empoderadas pela existência de um propósito e pelo permanente refinamento. Um sistema de avaliação garante oxigênio às boas escolhas.

Para permitir perenidade das boas escolhas que fazemos, a sexta dimensão nos lembra a importância da "disciplina". Vencer esta cortina é um dos maiores desafios dos postulantes ao mundo dos 100%. Quantas boas escolhas, preenchidas de excelentes propósitos não são testadas a cada momento? Quantas organizações que resolveram priorizar o atendimento às necessidades das gerações futuras não são tentadas a focar apenas nos objetivos de curto a partir do primeiro obstáculo encontrado?

Quando as pessoas e organizações já estão neste estágio avançado do mundo dos 100%, a sétima dimensão traz o desenho profundo de "compartilhar"nossos resultados com o Todo. Competições rasteiras perdem o significado quando temos boas escolhas, com propósito edificante, refinamento, permanência, equilíbrio e disciplina. Compartilhar os resultados torna-se uma consequência óbvia e práticas "no compliance"passam a não mais existir.

 Podemos ter atingido todas as dimensões anteriores e vencido todas as cortinas do nosso caminho, mas a oitava dimensão mostra que se não tivermos "alegria" e "entusiasmo", nossa jornada não terá a leveza necessária da bem aventurança. Lembre-se que entusiasmo vem do grego e significa "in" + "theos", ou seja, inspirado por Deus. Veja se as pessoas mais iluminadas e que vivem sua missão superior plenamente não são aquelas que mais transbordam alegria e contentamento?

Poucas pessoas e organizações chegarão até a nona dimensão. É a esfera da "desidentificação", onde conseguimos enxergar a nós mesmos e as nossas organizações como seres externos. Representa o fim do Ego e nesta dimensão, a sensação de totalidade e liberdade é tão profunda e verdadeira, que vencer uma concorrência ou atingir um resultado individual não faz mais muito sentido.

Finalmente, a décima dimensão é o final da jornada, o caminho de volta pra casa. É vivermos plenamente o mundo dos 100%. Tudo emana da décima dimensão e o resultado é a "certeza" da plenitude. É o estágio onde as coisas acontecem naturalmente, parecendo milagre para aqueles que não a vivenciam. Não existe escassez e a necessidade de intermediários no mundo dos 100%.

A crise que o mundo está mergulhado parece ser o resultado da insistência em viver o mundo miserável dos 10%. Onde as escolhas são mesquinhas e de curto prazo. Aos poucos, a sociedade começa a perceber que as boas escolhas precisam começar com bons propósitos e o movimento rumo à prosperidade se inicia.

Este blog coloca a disposição das pessoas, o programa "Em busca da sua Missão Superior"como forma de contribuir para a superação da primeira cortina, que pode parecer pouco, mas que possui uma extrema capacidade de mudança.

Tudo começa pequeno, mas é sua pureza de espírito que define sua grandeza e longevidade.

Para mais informações sobre a Cabala, leia: O poder de realização da Cabala de Ian Mecler.

domingo, 3 de setembro de 2017

O curto caminho longo


"Certa vez uma criança arrebatou o melhor de mim. Eu viajava e me encontrava diante de uma encruzilhada. Vi então um menino e lhe perguntei qual seria o caminho para cidade. Ele respondeu: 'Este é o caminho curto e longo e este, o longo e curto.' Tomei o curto e longo e logo deparei com obstáculos intransponíveis de jardins e pomares. Ao retornar,  reclamei: 'Meu filho, você não me disse que este caminho era curto?' O menino então respondeu: 'Porém lhe disse também que era longo!'" - A Alma Imoral - Nilton Bonder.

Teimamos em sempre procurar o caminho curto, porque pensamos que trilhá-lo será mais simples, o que normalmente não acontece.

O caminho curto é nossa tentativa de ficarmos confortáveis e mudarmos ao mesmo tempo. Isso não costuma dar certo porque deixamos de lado a reforma dos alicerces mofados que supostamente seguram nosso esqueleto.

Empresas que tentam se reinventar e escolhem o caminho curto, acabarão por descobrir que os males que as afligem não serão extirpados. Campanhas milionárias de "endo" e "exo" marketing acabam apenas por mascarar aquilo que precisa ficar em evidência: os produtos que não são bons, as relações que não são fecundas e as escolhas que não são sábias.

Reinos que percorrem apenas caminhos curtos acabam por entregar pacotes conservadores de mudanças, por mais que a corte faça alarde de forma alvissareira.

Pessoas que decidem buscar seu propósito e escolhem o caminho curto, irão se deparar com atitudes rasas, como trocas que acabam não trocando nada, novos comportamentos que não deixarão espaço para o verdadeiramente novo, belo e prazeiroso.

Como diz Nilton Bonder, a coragem está em ouvir o menino das encruzilhadas. Ele é a nossa Alma.

Assumir nossa Alma é aceitar sua imoralidade, pois ela irá decepar as cabeças da Tradição e do Equilíbrio. Sem isso, nada de novo poderá florescer.

Nossa alma trairá nossas verdades porque será regida pelos princípios da alegria e inocência do menino, que entende ser óbvio escolher o caminho longo e curto, pois não encara com medo e desconfiança os primeiros barrancos que tentarão lhe derrubar. Para ele isso é divertido. E a Paz é algo que vem de longe.