domingo, 10 de abril de 2016

Expectativa: quarta armadilha da liderança educadora


Lucas aguardava na sala de espera do seu CEO. Ele teria que posicionar seu chefe sobre os resultados dos seus quase três meses de trabalho. Enquanto esperava para ser atendido, tentava organizar o discurso que faria. Deveria dizer que não havia recebido muita ajuda interna? Mas ele não havia pedido por ajuda alguma. Então deveria culpar a crise econômica pelo baixo sucesso da campanha? Difícil dizer isso, pois não faltou dinheiro para que fizesse sua tal campanha inovadora de branding e ativação de vendas.

Quando entrou na sala do seu chefe, um senhor de aparência serena, quase fria, que trabalhava no seu computador e nem mesmo olhou para Lucas, sentou à sua frente, Dr. Maximiano, ou Dr. Max, como todos o chamavam. Curiosamente, Maximiano foi também um Imperador Romano, comandante sanguinário que combateu os rebeldes gauleses e germânicos na tentativa de manter as fronteiras do Império Romano, já decadente. Parece que o Dr. Max tinha a mesma missão que seu xará famoso, combater a concorrência e expandir as fronteiras de sua empresa de TI.

"Como estão as vendas?" Indagou o Dr. Max.

"Ainda não conseguimos os resultados esperados", respondeu secamente, Lucas.

"Então resolva o que tiver que resolver, demita quem foi incompetente e faça aquilo acontecer. O Conselho está impaciente com nossos resultados e você foi contratado para virarmos o jogo". Disse o Dr. Max sem mesmo tirar os olhos do seu computador, onde escrevia uma mensagem eletrônica para uma pessoa influente da sua roda de amigos.

Lucas sabia que as coisas não eram tão simples assim. Saiu da sala do seu CEO com a cabeça cheia. Os noventa dias estavam acabando, o negócio não dava sinais que iria decolar e Patrícia entrara no oitavo mês de gravidez.

Lucas havia criado muita expectativa nas pessoas. Para sua família, ele era o filho brilhante, que havia estudado no exterior e se casara com um mulher encantadora, Patrícia, que também tinha uma carreira de muito sucesso.

Quando assumiu seu cargo de diretor da nova unidade de negócios digitais, também criou muita expectativa em toda empresa. Ele representava a novidade, o arrojo que sempre faltou aquela empresa acostumada aos mesmos padrões e que via seu mercado encolher.

Lucas ao criar expectativas em pessoas poderosas correu o mesmo risco que Sêneca, o filósofo estoico, que foi tutor do Imperador Nero e que sempre teve sua vida por um fio,em virtude da Ira do seu Soberano,

Sêneca sempre tentou entender a Ira dos poderosos. Ela surge em função do alto nível de expectativa das pessoas influentes. Certa vez, Sêneca foi convidado para um jantar na casa de Vedius Pollio, um alto funcionário do governo. Ao servir os convidados, um escravo deixou cair a bandeja e quebrou os copos. Pollio foi acometido de grande Ira e mandou jogar o escravo num poço com lampreias, para que fosse comido vivo.

Sêneca dizia que os poderosos viviam em um mundo onde os copos não quebravam. Quanto mais poder e dinheiro mais alto era o nível de expectativa das pessoas. E quando ela não era atendida, vinha a Ira avassaladora.

Lucas tinha muita expectativa também. Em se mostrar bem sucedido para sua família. Em ser amado por Patrícia. Em assumir a vice-presidência que surgiria após o seu sucesso nos negócios.


O momento de mudar seria agora e as quatro armadilhas estavam postas. A inércia, a Paixão, a Ilusão e a Expectativa. Como combater estes espectros que preenchiam todo ambiente?

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