Lucas entrou atabalhoado na maternidade. Seu sogro ligou pra
ele às 2h da manhã dizendo que estavam levando Patrícia para a maternidade.
Parece que Pedro estava dizendo ao mundo que era chegado o momento. O maior
medo de Lucas era não estar presente no nascimento do seu filho e confirmar sua
fama de ausente.
Ao chegar à recepção foi informado que Patrícia estava sendo
observada e já tinha quase a dilatação necessária ao nascimento. Então ele
chegou ao quarto, onde seus sogros também estavam esperando e encontrou uma
mulher serena com um semblante de paz.
“
Você está bem?” - indagou Lucas.
“Sim, acho que chegou a hora do Pedro nascer” – disse
Patrícia.
“Que bom que cheguei a tempo. Quero muito estar ao seu lado
no nascimento do nosso filho” – afirmou com segurança, nosso herói.
“Sempre há tempo para estarmos presentes, né, Lucas?” –
disse Patrícia com um olhar de desconfiança.
Então o médico de Patrícia entrou no quarto para examiná-la.
Lucas e seus sogros esperaram do lado de fora e foram informados de que
Patrícia seria levada para a sala de cirurgia.
Lucas ficou observando sua esposa sendo levada pela equipe
de enfermagem e um aperto em seu peito deixou o rapaz sem palavras, enquanto
Patrícia sumia pelo corredor.
Quando Lucas espera na sala ao lado da ala de cirurgia
começava a refletir sobre as mudanças que ocorreram em sua vida. Ele tinha
começado uma nova etapa profissional. Sentindo-se um “copo cheio”, nosso
executivo começou seu trabalho de forma destemida ou como ele mesmo acabou
reconhecendo, como um animal desgovernado.
Gastou muito dinheiro, não ouviu a ninguém, deu pouca
atenção às pessoas e aos relacionamentos e ficou sozinho, com seu emprego na
berlinda. Após quase sucumbir, teve um colapso e foi apresentado ao Caminho
Quádruplo e sua epopeia. Aprendeu o posicionamento do Guerreiro, o envolvimento
Educador do Mestre e a abordagem efetiva e saneadora do Guerreiro.
Lucas se lembrava de ter usado também as potencialidades do
Visionário. Este arquétipo nos mostra que apenas a Verdade pode aquietar nossos
corações e nos mostrar a Visão de nosso futuro. Criatividade não é apenas ter
ideias inovadoras, e sim, entender que para chegarmos a algum resultado
precisamos ser autênticos e não abandonarmos a nós mesmos.
O abandono de nossa Essência ocorre em três situações.
Quando renunciamos a nós mesmos por amor alguém.
Quando renunciamos a nós mesmos para obtermos aceitação ou
aprovação de alguém.
Quando renunciamos a nós mesmos para mantermos a paz, o
equilíbrio ou a harmonia.
Em algumas tradições xamânicas, quando renunciamos a nós
mesmos, eles dizem que renunciamos a falar a língua do espírito e deixamos
nosso coração fraco. Isso faz com que nos tornemos dissimulados, manipuladores
e estrategistas de objetivos ocultos. O ambiente empresarial está repleto de
pessoas que perderam a língua do espírito e deixaram seu coração enfraquecer. A
fúria e o autoritarismo são os melhores exemplos de líderes fracos, perdido em
sua Essência.
Lucas começava a sentir-se autêntico novamente. Buscou as
pessoas que antes desprezara e os chamou para trabalhar um projeto juntos, onde
todos ganhariam. Uma nova, mas discreta campanha foi criada e nos produtos
desenhados por Lucas foram promovidos juntamente com o portfólio atual da
empresa.
Finalmente as vendas começaram a aparecer. Lucas havia
conseguido desenhar um case de “sucesso”, aquilo que antes ele buscava de forma
desgovernada, e que agora nosso executivo do perfil 3 do eneagrama, começava a
experimentar de forma firme e sustentável. Ao abrir-se para a verdade e a
autenticidade, o tipo 3 caminha para trilha do tipo 6 e abre-se à confiança e o
poder dos relacionamentos.
Lucas descobrira que uma empresa somente pode ser visionária
quando se posiciona corretamente, promove alianças, educa todas as partes
envolvidas e cura as chagas que surgem no caminho.
Pessoas “copo cheio” nunca serão visionárias e inovadoras.
Animais desgovernados são apenas mais uma parte acéfala de um mundo corporativo
cada vez mais insano e sem propósito.
Lucas sentiu-se renascendo para novas possibilidades em sua
vida e enquanto refletia sobre seus últimos meses, recebeu a notícia que tanto
esperava. Pedro havia chegado...
Quando ele entrou no quarto e pegou seu filho pode perceber na
prática o aprendizado que havia recebido recentemente. Uma criança com o
semblante sereno de Patrícia. Foi essa sua percepção e que agora estava nos
seus braços para que pudesse ser amada, educada e encaminhada para uma vida
cheia de aventuras e aprendizados.
(três meses depois)
Lucas, Patrícia e
Pedro entraram no aeroporto com muitas malas e muitos sonhos. Depois que o
ciclo se fechou no trabalho de Lucas, ele entendeu que tinha muito ainda a
estudar e que seria importante para ele e sua família um novo começo nos
horizontes no Hemisfério Norte.
Nosso protagonista havia sido aceito para lecionar em uma
pequena universidade em Vancouver. Patrícia aceitou prontamente abandonar seu
emprego e irem juntos conhecer uma nova cultura e novas possibilidades nas
terras distantes do Canadá.
Lucas sabia a importância do aprendizado recebido e ansiava
uma postura nova em sua vida. Agora, ele queria continuar estudando e
convivendo com culturas diversas. Mas Lucas tinha certeza que nos laços com sua
esposa e filho ele buscaria a força que direcionaria seus esforços de crescimento
pessoal.
Ao encontrar-se consigo mesmo, Lucas teve a possibilidade de
se achar como pai e companheiro e agora vislumbrava a possibilidade de ser um
cidadão planetário e atuar na mudança das mentalidades das comunidades,
corporações e sociedades.
Nosso amigo viajante era agora um aprendiz e sentia que seu
caminho estava mais leve ao deixar para traz o peso de coisas que não lhe
traziam valor algum e ao preencher o espaço por aquilo que realmente importava
e não pesava nem um pouco.
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