Após duas semanas sem ver Patrícia, Lucas estava ansioso
para revê-la. Os dois combinaram de se encontrar num simpático Café aonde
sempre iam quando o tempo sobrava. Ele estava sentado aguardo pela chegada da
sua esposa.
Após quinze minutos de espera, a moça entra no
estabelecimento e deixa que um sereno sorriso preencha sua face ao ver Lucas
sentado numa mesa perto da porta. O encontro é um pouco nervoso, pois eles não
sabiam muito bem como tratar um ao outro depois de quinze dias separados.
“Como estão as coisas no escritório” - perguntou Patrícia.
Lucas via na sua esposa uma pessoa admirável. Mesmo no final
da gestação, ela ainda transpirava beleza e um ar nobre que sempre estava
presente nela.
“Estão caminhando. Resolvi mudar minha estratégia e assumir
um papel mais ponderado. Ouvir as pessoas, envolvê-las nas decisões e me
posicionar corretamente” - disse Lucas.
Patrícia não conseguia acreditar nas palavras que saiam da
boca de seu marido. Ponderação e Envolvimento nunca foram as fortalezas de
Lucas, que sempre foi aguerrido, assertivo e pragmático.
“Então o velho Lucas está mudando? Onde foi parar o
combativo e destemido executivo?” - indagou Patrícia com visível ironia.
“Eu era um animal desgovernado, um besta no sentido literal
da palavra...” - falou o rapaz sorrindo dele mesmo.
“Sempre entendi que
um executivo devia acreditar no que achava correto, na sua estratégia e seguir
em frente vencendo todos os obstáculos. Eu me considerava um guerreiro, mas
agora descobri que nem mesmo isso eu era. Um guerreiro de verdade sabe
trabalhar o poder com sabedoria. Eu era apenas uma pessoa tola. Como me
disseram, um animal desgovernado” - completou Lucas.
Patrícia estava surpresa. Lucas transmitia uma serenidade
que ela nunca havia percebido em seu marido anteriormente. Parecia que algo
havia acontecido.
“Mas o que fez você mudar tão radicalmente de atitude?” - questionou
Patrícia.
“Depois de muita cabeçada, notei que não estava chegando a
lugar algum. Gastei tempo e dinheiro da empresa em um projeto cheio de falhas e
conduzido de forma infantil por mim. Fui parar no pronto socorro e parece que
algumas pessoas boas foram colocadas no meu caminho” - disse Lucas, uma pessoa cética até aquele
momento e que achava qualquer tipo de iniciativa de autoconhecimento, uma
grande babaquice, em suas palavras.
Continuou o rapaz - “uma
pessoa muito legal lá do escritório me deu esse livro”, então ele colocou o
Caminho Quádruplo em cima da mesa.
”Aprendi alguns conceitos importantes e resolvi pô-los em
prática. Primeiramente, um posicionamento correto, onde minha presença
conseguiu transmitir autenticidade para as pessoas. Uma forma clara de me
comunicar com todos e o compartilhamento do poder com as pessoas envolvidas no
projeto”.
“Puxa, fiquei interessada por este livro” - sorriu Patrícia.
“Não há nada de novo aqui. Mas às vezes alguém precisa dizer
o óbvio pra gente. Também procurei assumir um papel educador. Marquei reuniões
com a equipe e fomos descobrindo os pontos falhos e as necessidades de mudança
no projeto. Fiz várias rodadas de conversa com outras pessoas da empresa e
propus aos outros diretores um novo projeto, onde os produtos atuais seriam
trabalhados em conjunto com os novos que eu tentava lançar no mercado. Foi um
mix do posicionamento do Guerreiro com a dedicação do Mestre, dois dos quatro
arquétipos apresentados no livro.” - completou Lucas.
“E tem mais coisa ai nesse seu livrinho vermelho?” - perguntou com curiosidade, Patrícia.
“Sim”, afirmou Lucas. “Estou agora no estágio do Curador, outro
papel do Líder que visa curar algumas formas perigosas de dependência que
assolam nossas vidas e nos faz perder o foco e energia naquilo que fazemos” –
explicou Lucas.
“Nossa, fiquei curiosa, quais são essas dependências” - perguntou
de forma impaciente, Patrícia.
“Estou aprendendo que tomamos atitudes cheias de dependência
de coisas que apenas atrapalham nosso caminho. A primeira delas é a dependência
por intensidade. Os executivos sempre tentam trabalhar e buscar resultados numa
intensidade desnecessária. Tudo tem que ser o maior e o melhor, nossa empresa,
nossos projetos, a forma como nos posicionamos. Estou aprendendo agora que
ações simples e efetivas são muito mais eficazes do que um desfile luxuoso, mas
vazio em conteúdo.”
“A dependência da perfeição é a segunda armadilha que os
executivos sempre acertam em cheio. Ela significa que não toleremos falhas e
por isso, ficamos vulneráveis a todo o momento. Isso faz com que vivamos sempre
no fio da navalha, desnecessariamente e nossa energia é desperdiçada”.
“A dependência pela necessidade de saber é outra variância
que nos assola. Quando queremos saber tudo e controlar a todos, ficamos
controladores e autoritários. E o pior, não deixamos espaço para a surpresa e a
criatividade. Tudo fica cinza.”
E completou Lucas - “Finalmente,
a dependência naquilo que não dá resultados. Apenas uma parte de nós não dá
bons resultados e quando estamos com essa dependência nos concentramos apenas
nessa parte. Encaramos a vida sob um prisma fixo e não somos capazes de confiar
em informações intuitivas. Viramos pessoas obsessivas”.
“Então essas são as dependências do executivo do tipo “animal
desgovernado”. É isso Lucas?” - perguntou com sincero interesse, Patrícia.
“Sim, Patrícia, é isso mesmo. Reconheço que minha arrogância
quase acabou com minha carreira e com nosso casamento. Daqui a pouco, Pedro irá
chegar ao mundo. Eu queria muito que, além dele encontrar um lugar melhor para
viver, também encontrasse um pai melhor, mais sábio e tolerante. Uma pessoa
melhor” - completou Lucas.
“Estou sem palavras. Torço muito por você, Lucas. Quero que
nosso filho tenha um bom pai, apenas isso. Alguém em que ele possa se espelhar
e crescer uma pessoa consciente e útil ao mundo”- disse Patrícia - “Bem, preciso ir, tenho consulta ainda hoje.
Parece que está chegando a hora de Pedro vir à Luz. Tchau... Se cuida”- despediu-se
Patrícia com um beijo no rosto de Lucas.
Ao nosso herói, restava agora voltar pra casa, descansar e
voltar aos seus projetos no dia seguinte. O sentimento é que faltava pouco
agora para que pudesse mostrar para o que veio. O final estava próximo, mas
ainda exigia algumas braçadas.
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