sábado, 21 de maio de 2016

Curador, terceiro caminho da Liderança Educadora


Após duas semanas sem ver Patrícia, Lucas estava ansioso para revê-la. Os dois combinaram de se encontrar num simpático Café aonde sempre iam quando o tempo sobrava. Ele estava sentado aguardo pela chegada da sua esposa.

Após quinze minutos de espera, a moça entra no estabelecimento e deixa que um sereno sorriso preencha sua face ao ver Lucas sentado numa mesa perto da porta. O encontro é um pouco nervoso, pois eles não sabiam muito bem como tratar um ao outro depois de quinze dias separados.

“Como estão as coisas no escritório” -  perguntou Patrícia.

Lucas via na sua esposa uma pessoa admirável. Mesmo no final da gestação, ela ainda transpirava beleza e um ar nobre que sempre estava presente nela.

“Estão caminhando. Resolvi mudar minha estratégia e assumir um papel mais ponderado. Ouvir as pessoas, envolvê-las nas decisões e me posicionar corretamente” -  disse Lucas.

Patrícia não conseguia acreditar nas palavras que saiam da boca de seu marido. Ponderação e Envolvimento nunca foram as fortalezas de Lucas, que sempre foi aguerrido, assertivo e pragmático.

“Então o velho Lucas está mudando? Onde foi parar o combativo e destemido executivo?” - indagou Patrícia com visível ironia.

“Eu era um animal desgovernado, um besta no sentido literal da palavra...” - falou o rapaz sorrindo dele mesmo.

 “Sempre entendi que um executivo devia acreditar no que achava correto, na sua estratégia e seguir em frente vencendo todos os obstáculos. Eu me considerava um guerreiro, mas agora descobri que nem mesmo isso eu era. Um guerreiro de verdade sabe trabalhar o poder com sabedoria. Eu era apenas uma pessoa tola. Como me disseram, um animal desgovernado” - completou Lucas.

Patrícia estava surpresa. Lucas transmitia uma serenidade que ela nunca havia percebido em seu marido anteriormente. Parecia que algo havia acontecido.

“Mas o que fez você mudar tão radicalmente de atitude?” - questionou Patrícia.

“Depois de muita cabeçada, notei que não estava chegando a lugar algum. Gastei tempo e dinheiro da empresa em um projeto cheio de falhas e conduzido de forma infantil por mim. Fui parar no pronto socorro e parece que algumas pessoas boas foram colocadas no meu caminho” -  disse Lucas, uma pessoa cética até aquele momento e que achava qualquer tipo de iniciativa de autoconhecimento, uma grande babaquice, em suas palavras.

Continuou o rapaz -  “uma pessoa muito legal lá do escritório me deu esse livro”, então ele colocou o Caminho Quádruplo em cima da mesa.

”Aprendi alguns conceitos importantes e resolvi pô-los em prática. Primeiramente, um posicionamento correto, onde minha presença conseguiu transmitir autenticidade para as pessoas. Uma forma clara de me comunicar com todos e o compartilhamento do poder com as pessoas envolvidas no projeto”.

“Puxa, fiquei interessada por este livro” - sorriu Patrícia.

“Não há nada de novo aqui. Mas às vezes alguém precisa dizer o óbvio pra gente. Também procurei assumir um papel educador. Marquei reuniões com a equipe e fomos descobrindo os pontos falhos e as necessidades de mudança no projeto. Fiz várias rodadas de conversa com outras pessoas da empresa e propus aos outros diretores um novo projeto, onde os produtos atuais seriam trabalhados em conjunto com os novos que eu tentava lançar no mercado. Foi um mix do posicionamento do Guerreiro com a dedicação do Mestre, dois dos quatro arquétipos apresentados no livro.” - completou Lucas.

“E tem mais coisa ai nesse seu livrinho vermelho?” -  perguntou com curiosidade, Patrícia.

“Sim”, afirmou Lucas. “Estou agora no estágio do Curador, outro papel do Líder que visa curar algumas formas perigosas de dependência que assolam nossas vidas e nos faz perder o foco e energia naquilo que fazemos” – explicou Lucas.

“Nossa, fiquei curiosa, quais são essas dependências” - perguntou de forma impaciente, Patrícia.

“Estou aprendendo que tomamos atitudes cheias de dependência de coisas que apenas atrapalham nosso caminho. A primeira delas é a dependência por intensidade. Os executivos sempre tentam trabalhar e buscar resultados numa intensidade desnecessária. Tudo tem que ser o maior e o melhor, nossa empresa, nossos projetos, a forma como nos posicionamos. Estou aprendendo agora que ações simples e efetivas são muito mais eficazes do que um desfile luxuoso, mas vazio em conteúdo.”

“A dependência da perfeição é a segunda armadilha que os executivos sempre acertam em cheio. Ela significa que não toleremos falhas e por isso, ficamos vulneráveis a todo o momento. Isso faz com que vivamos sempre no fio da navalha, desnecessariamente e nossa energia é desperdiçada”.

“A dependência pela necessidade de saber é outra variância que nos assola. Quando queremos saber tudo e controlar a todos, ficamos controladores e autoritários. E o pior, não deixamos espaço para a surpresa e a criatividade. Tudo fica cinza.”

E completou Lucas -  “Finalmente, a dependência naquilo que não dá resultados. Apenas uma parte de nós não dá bons resultados e quando estamos com essa dependência nos concentramos apenas nessa parte. Encaramos a vida sob um prisma fixo e não somos capazes de confiar em informações intuitivas. Viramos pessoas obsessivas”.

“Então essas são as dependências do executivo do tipo “animal desgovernado”. É isso Lucas?” - perguntou com sincero interesse, Patrícia.

“Sim, Patrícia, é isso mesmo. Reconheço que minha arrogância quase acabou com minha carreira e com nosso casamento. Daqui a pouco, Pedro irá chegar ao mundo. Eu queria muito que, além dele encontrar um lugar melhor para viver, também encontrasse um pai melhor, mais sábio e tolerante. Uma pessoa melhor” - completou Lucas.

“Estou sem palavras. Torço muito por você, Lucas. Quero que nosso filho tenha um bom pai, apenas isso. Alguém em que ele possa se espelhar e crescer uma pessoa consciente e útil ao mundo”-  disse Patrícia -  “Bem, preciso ir, tenho consulta ainda hoje. Parece que está chegando a hora de Pedro vir à Luz. Tchau... Se cuida”- despediu-se Patrícia com um beijo no rosto de Lucas.

Ao nosso herói, restava agora voltar pra casa, descansar e voltar aos seus projetos no dia seguinte. O sentimento é que faltava pouco agora para que pudesse mostrar para o que veio. O final estava próximo, mas ainda exigia algumas braçadas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário