Hoje o Brasil vai as ruas pedir o fim da corrupção e a saída
de políticos do poder. Todos estão indignados e com razão pelos fatos recentes
exaustivamente mostrados pela mídia. Mas será que as pessoas entenderam a causa
desses fatos? Temo que não.
Não parece de se estranhar o comportamento inadequado das
pessoas que compõe o nosso sistema político arcaico. Elas são o resultado de um
processo de financiamento de campanhas que permite a sua ascensão, para que
depois possam assumir seu papel junto aqueles que as financiaram.
A corrupção no Brasil, e no resto do mundo, tem sua origem
nas graves falhas de governança das grandes corporações que permitem que seus
dirigentes aceitem fazer conluios e acordos espúrios que irão prejudicar seus
acionistas, os consumidores e a Nação.
As grandes corporações possuem as pessoas mais bem
preparadas nos seus quadros, políticas de compliance
duras, relações públicas atuantes e até universidades corporativas. Mesmo
assim, tudo isso não é obstáculo para que malas de dinheiro sejam enviadas a
políticos, dirigentes de estatais e tesoureiros de partidos.
A democracia precisa chegar às corporações. Somente assim
teremos um país moderno, inclusivo e preparado para os desafios do novo tempo.
E de forma alguma estou falando em estatizar empresas. O resultado seria
desastroso. Estou falando em uma mudança estrutural no sistema de governança
das corporações.
É essencial tirar a “transparência” do quadro na parede das
corporações e colocá-lo de forma efetiva no seu DNA, no seu corpo gerencial e
na sua forma de dialogar com a sociedade.
A primeira coisa a fazer é mudar a lógica imediatista de
resultados de curto prazo que hoje impera
nas corporações. Para que as metas
sejam atingidas e os executivos recebam seu bônus ao final do ano, a ética
muitas vezes é esquecida e contratos são firmados de forma pouco ortodoxa. O
sistema de remuneração e avaliação dos executivos precisa ser reformado e
incluir a participação dos clientes, fornecedores e da sociedade civil entre os
seus gestores.
Em segundo lugar, é fundamental que as universidades
corporativas assumam seu papel transformador. Elas precisam trazer o cliente e
os demais stakeholders para dentro
das suas estruturas, na forma de programas educacionais e grupos de melhores
práticas. Quando o cliente é educado a usar corretamente os produtos das
corporações, o espaço para o marketing puramente de imagem desaparece e uma
aliança real de compromisso entre as diversas partes é criada.
Os líderes devem receber dos educadores corporativos
conteúdos que não tratem apenas de competitividade e desempenho, mas que
promovam a transparência, inclusão e cidadania. E esses conteúdos devem estar
expressos nos objetivos estratégicos das corporações. Isto significa colocar em
pauta novas competências, que espelhem valores ainda não presentes nas agendas
dos programas de formação de líderes.
Realmente, vivemos uma crise democrática. Contudo, o cerne
desta crise não está no sistema político formal, mas na incapacidade de levar
uma administração participativa para dentro das corporações. Sim, somente a
educação pode mudar o mundo. Então é necessário começar por aquelas entidades
que hoje conduzem os negócios e a produção de riqueza.
O modelo estatizante mostrou-se ineficaz, mas a governança
atual das corporações está levando nossa sociedade para um beco sem luz, pois
não estimula as melhores práticas de gestão, não consegue conciliar
desenvolvimento com sustentabilidade, não promove a inovação e cria um panorama
desolador para as gerações futuras.
As corporações precisam
gastar menor com marketing de imagem, tirar as teias de aranha das suas
universidades corporativas e colocar os clientes e a sociedade como
protagonistas nos seus objetivos e na sua forma de atuação. E o tempo é curto. Imaginem
o que poderá acontecer quando a população, que hoje está nas ruas com camisa
amarela e nariz de palhaço, descobrir que fazer manifestações nas portarias das
grandes corporações pode ter um efeito muito mais eficaz que uma revolta
aleatória contra os políticos de plantão?
Nenhum comentário:
Postar um comentário