domingo, 15 de março de 2015

A origem da corrupção está nas corporações mal administradas e não nos políticos corruptos



Hoje o Brasil vai as ruas pedir o fim da corrupção e a saída de políticos do poder. Todos estão indignados e com razão pelos fatos recentes exaustivamente mostrados pela mídia. Mas será que as pessoas entenderam a causa desses fatos? Temo que não.

Não parece de se estranhar o comportamento inadequado das pessoas que compõe o nosso sistema político arcaico. Elas são o resultado de um processo de financiamento de campanhas que permite a sua ascensão, para que depois possam assumir seu papel junto aqueles que as financiaram.

A corrupção no Brasil, e no resto do mundo, tem sua origem nas graves falhas de governança das grandes corporações que permitem que seus dirigentes aceitem fazer conluios e acordos espúrios que irão prejudicar seus acionistas, os consumidores e a Nação.

As grandes corporações possuem as pessoas mais bem preparadas nos seus quadros, políticas de compliance duras, relações públicas atuantes e até universidades corporativas. Mesmo assim, tudo isso não é obstáculo para que malas de dinheiro sejam enviadas a políticos, dirigentes de estatais e tesoureiros de partidos.

A democracia precisa chegar às corporações. Somente assim teremos um país moderno, inclusivo e preparado para os desafios do novo tempo. E de forma alguma estou falando em estatizar empresas. O resultado seria desastroso. Estou falando em uma mudança estrutural no sistema de governança das corporações.

É essencial tirar a “transparência” do quadro na parede das corporações e colocá-lo de forma efetiva no seu DNA, no seu corpo gerencial e na sua forma de dialogar com a sociedade.

A primeira coisa a fazer é mudar a lógica imediatista de resultados de curto prazo que hoje impera 
nas corporações. Para que as metas sejam atingidas e os executivos recebam seu bônus ao final do ano, a ética muitas vezes é esquecida e contratos são firmados de forma pouco ortodoxa. O sistema de remuneração e avaliação dos executivos precisa ser reformado e incluir a participação dos clientes, fornecedores e da sociedade civil entre os seus gestores.

Em segundo lugar, é fundamental que as universidades corporativas assumam seu papel transformador. Elas precisam trazer o cliente e os demais stakeholders para dentro das suas estruturas, na forma de programas educacionais e grupos de melhores práticas. Quando o cliente é educado a usar corretamente os produtos das corporações, o espaço para o marketing puramente de imagem desaparece e uma aliança real de compromisso entre as diversas partes é criada.

Os líderes devem receber dos educadores corporativos conteúdos que não tratem apenas de competitividade e desempenho, mas que promovam a transparência, inclusão e cidadania. E esses conteúdos devem estar expressos nos objetivos estratégicos das corporações. Isto significa colocar em pauta novas competências, que espelhem valores ainda não presentes nas agendas dos programas de formação de líderes.

Realmente, vivemos uma crise democrática. Contudo, o cerne desta crise não está no sistema político formal, mas na incapacidade de levar uma administração participativa para dentro das corporações. Sim, somente a educação pode mudar o mundo. Então é necessário começar por aquelas entidades que hoje conduzem os negócios e a produção de riqueza.

O modelo estatizante mostrou-se ineficaz, mas a governança atual das corporações está levando nossa sociedade para um beco sem luz, pois não estimula as melhores práticas de gestão, não consegue conciliar desenvolvimento com sustentabilidade, não promove a inovação e cria um panorama desolador para as gerações futuras.


As corporações precisam gastar menor com marketing de imagem, tirar as teias de aranha das suas universidades corporativas e colocar os clientes e a sociedade como protagonistas nos seus objetivos e na sua forma de atuação. E o tempo é curto. Imaginem o que poderá acontecer quando a população, que hoje está nas ruas com camisa amarela e nariz de palhaço, descobrir que fazer manifestações nas portarias das grandes corporações pode ter um efeito muito mais eficaz que uma revolta aleatória contra os políticos de plantão? 

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